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Pesquisa calcula prejuízos da exclusão da população LGBTQIAPN+

O Brasil pode estar perdendo recursos ao deixar de incluir, de forma plena, a população LGBTQIA+. Essa é a premissa central da pesquisa “O Custo da Exclusão LGBTQIA+ no Brasil” desenvolvida pelo Banco Mundial, com execução do Instituto Matizes, do Instituto +Diversidade e de um Consórcio de Organizações e Redes LGBTI+. O trabalho tem o apoio institucional do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), por meio da Secretaria Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+.
A iniciativa busca estimar os impactos econômicos e sociais da exclusão LGBTQIA+ no mercado de trabalho, com base em evidências, mostrando como a discriminação reduz oportunidades, produtividade e o desenvolvimento do país. Os resultados serão utilizados para subsidiar políticas de inclusão LGBTQIA+ no âmbito federal, promovendo ações mais eficazes no enfrentamento à discriminação.
Embora o estudo não utilize uma amostra probabilística com representatividade estatística nacional — o que impede a generalização dos resultados — ele será capaz de oferecer indicadores econômicos e analíticos sobre os prejuízos financeiros associados à exclusão da população LGBTQIA+ em território brasileiro, com base em dados reais e comparáveis à Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Apoio institucional
Como uma das instituições-chave na viabilização da pesquisa, o ministério integra o Comitê Consultivo Técnico deste trabalho. O colegiado reúne especialistas do IBGE, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), da academia e de outros ministérios, assegurando a qualidade técnica e o alinhamento ético-metodológico do estudo, além de apoiar a estratégia de mobilização nacional, com foco especial em alcançar populações de difícil acesso e maior vulnerabilidade. O MDHC atuará ainda na facilitação do diálogo interministerial e na articulação de políticas públicas com base nas evidências que serão geradas, além de contribuir para a divulgação ampla dos resultados da pesquisa.
De acordo com a secretária nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+, Symmy Larrat, os investimentos em políticas públicas voltadas à população LGBTQIA+ não devem ser vistos como gastos, mas como uma estratégia de desenvolvimento e justiça social. “É importante para a gente mostrar o quanto a ausência de políticas públicas prejudica o desenvolvimento de um país e custa para o erário. Custa mais fazer ações depois que a violência já aconteceu do que investir em ações preventivas para que essa violência não aconteça”, afirma.
“Quando dizemos que estamos investindo em políticas para a população LGBTQIA+, não estamos falando de privilégio. Estamos falando de um investimento necessário para que nós não tenhamos custos maiores depois, ao tentar reparar as violências já cometidas”, reforça.
Symmy também destaca que a exclusão se inicia muitas vezes no ambiente familiar e se prolonga por toda a vida, afetando múltiplas dimensões da cidadania. “Estamos falando de uma exclusão que começa desde o âmbito familiar, com a expulsão de casa e, a partir daí, uma sequência de ausências. O preconceito inviabiliza o acesso das pessoas e a permanência na educação. Essa má formação faz com que essas pessoas não tenham emprego. E estamos falando também de uma violência extrema, como assassinatos, agressões e outras formas de violência”, conclui.
Metodologia
A pesquisa apresenta aos participantes um conjunto de perguntas que abordam aspectos do perfil socioeconômico de cada um, experiências profissionais, níveis de renda e possíveis situações de discriminação no ambiente de trabalho. Para garantir a segurança, o anonimato e o sigilo dos entrevistados, o estudo foi desenvolvido com rigor técnico e segue os princípios da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Todas as informações coletadas serão utilizadas exclusivamente para fins estatísticos.
O trabalho teve seu escopo estruturado ao longo de 2024, com o início oficial das atividades em 2025. A coleta virtual de dados foi lançada em junho permanece ativa até 12 de setembro deste ano, aberta a toda a comunidade LGBTQIA+ com mais de 18 anos. Paralelamente, estão sendo realizadas coletas presenciais em quatro cidades-chave, com aplicação de grupos focais e entrevistas. Trata-se de uma metodologia inédita e robusta desenvolvida pelo Banco Mundial, com base em métodos mistos (quantitativos e qualitativos).
A análise e validação dos dados será conduzida ao final da coleta, com previsão de divulgação dos resultados e recomendações até o início de 2026.
Experiências internacionais
Estudos semelhantes conduzidos pelo Banco Mundial em outros países indicam que os impactos econômicos da exclusão LGBTQIA+ podem ser significativos. Na Índia, por exemplo, um relatório publicado em 2014 estimou que a exclusão de pessoas LGBTQIA+ poderia custar até 1,7% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional.
Também foram realizados levantamentos na Macedônia do Norte e na Sérvia, com foco nos impactos no mercado de trabalho. Esses estudos inspiraram o modelo da pesquisa brasileira, que aplica a metodologia desenvolvida pelo Banco Mundial com adaptações ao contexto local e recortes interseccionais.