O esporte como plataforma social

 O esporte como plataforma social

Imagine um local de moradia degradado, por onde um rio bastante poluído passa. Trata-se da Comunidade 52, em Santos (PR), trajeto do Rio dos Bugres, classificado pela revista científica Marina Pollution Bulletin como o segundo rio mais contaminado por microplásticos, não do Brasil, mas do mundo. Difícil imaginar um futuro ali, quanto mais um local de atração e divertimento. É quando um projeto social esportivo surge e muda estatísticas.

O Cruyff Court Pelé ocupa um território com uma quadra esportiva e reorganiza o espaço, transforma trajetórias e desafia a exclusão. O futebol é mais do que um jogo para crianças e jovens. É encontro, criação e espaço de sonhos. Infelizmente, a urbanização e a falta de espaços adequados e seguros têm impedido que a cultura do futebol de rua sobreviva. O Cruyff Court, iniciativa da Cruyff Foundation que é promovida no Brasil em parceria com o Instituto Plataforma Brasil (IPB), resgata essa essência e busca transformar o esporte em uma ferramenta de inclusão e desenvolvimento social.

No Cruyff Court, a lógica do futebol tradicional dá lugar à espontaneidade, criatividade e colaboração. Neles, o que importa é o jogo, o aprendizado e o senso de comunidade. Com base nas 14 Regras de Johan Cruyff e seguindo uma metodologia própria, valores como espírito de equipe, respeito e responsabilidade são trabalhados de forma prática, promovendo o desenvolvimento pessoal de cada participante.

“Desde 2010 o projeto vem trabalhando com crianças que vivem em comunidades de alta vulnerabilidade social. Em Santos, isso iniciou em dezembro de 2023 com a inauguração da Cruyff Court Pelé no Bairro Rádio Clube – Zona Noroeste de Santos. A construção do equipamento dá início ao processo de contratação de profissionais e divulgação para a comunidade. O trabalho usa o esporte futebol para estimular o desenvolvimento de comportamentos para a convivência social”, explica o coordenador pedagógico do Cruyff Court SP, Maurício Teodoro de Souza.

Existem respostas das famílias que indicam mudança de comportamento nas crianças e jovens que participam das atividades. Ultimamente o projeto tem conseguido atingir a meta de 35% de participação de meninas, que encontram no Cruyff Court um espaço seguro para jogar e se expressar. Em 2023, elas foram orientadas por um grupo de mulheres envolvidas com o empoderamento feminino e criaram o Toolkit Meninas no Cruyff Court: Bola nos pés!, um material voltado para treinadores, com diretrizes sobre como promover direitos iguais e fortalecer a presença feminina no futebol social.

O projeto está presente em dez localidades distribuídas por quatro municípios de São Paulo: São Paulo, Cabreúva, Itapecerica da Serra e Santos. Em cada um desses locais, o futebol é trabalhado como meio de integração de crianças e jovens que vivem em comunidades com situação de vulnerabilidade social, oferecendo não apenas atividades esportivas, mas também um espaço seguro para o desenvolvimento pessoal, social e emocional dos jovens.

Falecido em 2016, o futebolista John Cruyff deixou um legado fora dos campos por acreditar no poder do futebol para ensinar valores e criar oportunidades para jovens.

14 Regras de Johan Cruyff

  • ESPÍRITO DE EQUIPE
    Não se realiza nada sem a ajuda de outras pessoas.
  • RESPONSABILIDADE
    Cuide dos bens coletivos, eles também são seus.
  • RESPEITO
    Tenha respeito pelos demais.
  • INCLUSÃO
    Inclua pessoas diferentes em suas atividades.
  • INICIATIVA
    Arrisque-se a fazer algo novo.
  • COOPERAÇÃO
    Em uma equipe, companheiros sempre se ajudam.
  • PERSONALIDADE
    Seja você mesmo.
  • PARTICIPAÇÃO SOCIAL
    Importante no esporte, essencial na vida.
  • TÉCNICA
    É a base.
  • TÁTICA
    É saber o que fazer.
  • DESENVOLVIMENTO
    O esporte desenvolve o corpo e o espírito.
  • APRENDER
    Tente aprender algo novo a cada dia.
  • JOGAR JUNTOS
    É a parte essencial do jogo.
  • CRIATIVIDADE
    É a beleza do esporte.
Diogo Cavazotti Aires

Diogo Cavazotti Aires

dcavazotti@gmail.com / Jornalista há mais de 20 anos, com experiência em jornal, TV, revista, internet e assessoria de imprensa. Único jornalista brasileiro a ganhar uma bolsa de investigação da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Ganhou diferentes prêmios, como o Troféu Sangue Bom do Jornalismo Paranaense (quatro vezes), o Prêmio Ocepar de Jornalismo e o Prêmio Top Inovação na categoria direitos humanos. Doutor em Educação e mestre em Direitos Humanos e Direito Internacional Humanitário.

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