O cooperativismo está na sua vida e você nem imagina

 O cooperativismo está na sua vida e você nem imagina

Do alimento na mesa ao dinheiro na conta. Organizações contribuem para a economia, emprego e serviços de milhões de pessoas; e ainda colaboram com o meio ambiente

Você pode não perceber, mas, de alguma forma, sua vida está envolvida com a existência das cooperativas. Uma cooperativa é uma associação de pessoas que se une para, por meio de uma organização democrática, atingir objetivos comuns em benefício de todos. Elas são empresas de propriedade conjunta, geridas com foco na ajuda mútua e solidariedade. A ONU declarou 2025 como o Ano Internacional das Cooperativas. Este reconhecimento visa destacar a importância do cooperativismo no desenvolvimento social, econômico e sustentável, além de promover a inclusão e a justiça social.

É muito provável que no seu café da manhã haja algum produto produzido por uma cooperativa local. É presumível que a consulta médica que você vai realizar esta semana seja realizada por meio de um plano de saúde, e este plano é uma cooperativa. O empréstimo feito para a abertura de seu negócio próprio veio de uma cooperativa. Os alimentos da mesa no almoço e no jantar chegaram por meio de diferentes cooperativas, como agrárias, agroindustriais, portuárias, laticínios, fruticultores, produtores de sementes, caminhoneiros, de cargas e logísticas e muito mais. Dependendo da cidade onde você vive, a energia também vem pelo trabalho destas organizações, inclusive a solar. Em alguns municípios, até a educação é feita por meio de cooperativas.

O gerente técnico de integração da Cocamar, Emerson Nunes (Foto Rogério Recco)

Em um mundo marcado por desigualdades sociais, desafios econômicos e crises ambientais, o cooperativismo se firma como um modelo sustentável e solidário de desenvolvimento. No Paraná, esse movimento tem ganhado cada vez mais força, transformando realidades e promovendo o bem-estar coletivo em dezenas de setores — do agronegócio à saúde, do crédito à educação.

O estado é hoje uma das referências nacionais em cooperativismo. Segundo dados do Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), mais de 3,5 milhões de paranaenses estão diretamente ligados ao sistema cooperativo. São mais de 200 cooperativas e 139 mil empregos diretos que geram renda, distribuem oportunidades e promovem inclusão em todas as regiões do estado.

Para o agricultor José Carlos Lima, associado há mais de 20 anos a uma cooperativa agroindustrial no Oeste do Paraná, a mudança foi radical: “Antes da cooperativa a gente vendia o que podia, como dava. Agora temos assistência técnica, acesso ao mercado, crédito facilitado. A cooperativa não só melhorou minha produção, ela mudou minha vida”, conta.

Esse tipo de relato se repete em diversas regiões. No setor do crédito, cooperativas como a Sicredi, Sicoob e Cresol oferecem alternativas mais justas de financiamento e gestão financeira. Já na área da saúde, instituições como a Unimed viabilizam atendimento médico de qualidade a custos acessíveis.

O diferencial do cooperativismo está na sua essência: o foco não é o lucro, mas o bem comum. Cada cooperado é dono do negócio, participa das decisões e colhe os frutos dos resultados. Isso gera não apenas crescimento econômico, mas também um forte senso de pertencimento, solidariedade e responsabilidade social.

O cooperativismo paranaense reforça seu compromisso com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Investimentos em educação, sustentabilidade ambiental e inclusão social são pilares das cooperativas mais inovadoras do estado.

Durante a pandemia, por exemplo, muitas cooperativas se mobilizaram para garantir a produção de alimentos, apoiar hospitais e preservar empregos. E esse espírito de colaboração continua vivo, agora voltado para os desafios do futuro: tecnologias verdes, agricultura regenerativa, economia circular e fortalecimento das comunidades locais.

Sustentabilidade nas cooperativas do Paraná

As cooperativas também são responsáveis por métodos ecológicos nas práticas de plantio e produção de gado. O gerente técnico de integração da Cocamar, do interior do Paraná, Emerson Nunes, explica que a agricultura regenerativa da cooperativa é bem ampla e busca conciliar produção em vários fatores, promovendo diversos setores agrícolas a longo prazo. “Trabalhamos com a integração da lavoura, pecuária e floresta, gerando a agricultura regenerativa na região. Isso ajuda no sequestro de carbono e mitigação dos gases do efeito estufa”, explica. São práticas conservacionistas para gerar benefícios ao meio ambiente. A principal preocupação com o carbono, especificamente o dióxido de carbono (CO2), é o seu papel na aceleração do aquecimento global e nas mudanças climáticas. O CO2 é um gás de efeito estufa, o que significa que ele retém o calor na atmosfera, contribuindo para o aumento da temperatura do planeta.

Usina de biogás, situada em Ouro Verde do Oeste (PR) (Foto: Primato)

“A integração começou incentivando a recuperação de solos e pastagens degradas e avançou nessa prática conservacionista. A gente incentiva a integração da agropecuária degradada, recuperando áreas com o plantio da cultura de soja no verão. Porém, demais regiões podem ser implantadas em outras culturas, como o algodão, o amendoim ou mandioca, e o retorno da braquiária no inverno”, explica Nunes. A braquiária é um gênero de forrageira bastante resistente à seca e ao frio intenso. Atualmente está presente em cerca de 90% das pastagens brasileiras. Com isso, gera um aumento na produção de carne e lucros de produtividade. Para o cooperado, há ganhos no aumento de produção. Nacionalmente, as pecuárias degradadas produzem uma média de 3 a 4 arrobas na carne por hectare ano. Uma arroba equivale a aproximadamente 15 kg. O cooperado que faz a integração ganha mais: uma média de 8 arrobas.

Tecnologia verde, também conhecida como sustentável, refere-se a práticas que visam minimizar o impacto ambiental negativo das atividades humanas e promover um futuro mais sustentável. Envolve inovações que reduzem a emissão de carbono, otimizam o uso de recursos e buscam soluções ecologicamente responsáveis em diversas áreas, como energia, indústria, agricultura e transporte. É o exemplo da cooperativa agroindustrial Primato, que atua em diferentes frentes, como no setor mercadista, restaurantes, recebimento de grãos, posto de combustível, suínos, leite, entre outros. São atualmente quase 11 mil cooperados, presentes em 340 municípios. Entre outras atividades ecológicas da Primato está a usina de biogás, situada em Ouro Verde do Oeste (PR). Ela transforma dejetos de suínos em combustível renovável, que é utilizado para os caminhões ou para subsidiar o consumo de energia elétrica dos cooperados. As usinas de biogás oferecem diversos benefícios ambientais, como a redução de emissões de gases de efeito estufa, a utilização de resíduos orgânicos que seriam descartados, a minimização da poluição do solo e água, a geração de energia limpa e renovável e a possibilidade de produzir biofertilizantes.

Outra forma de sustentabilidade é a economia circular. Trata-se de um sistema econômico que busca reduzir o desperdício e a poluição por meio da otimização do uso de recursos, do prolongamento da vida útil dos produtos e da reutilização e reciclagem de materiais. Em vez de uma economia linear (extrair, produzir, consumir, descartar), a economia circular busca um modelo de negócio que valorize a reutilização, o reparo, a reciclagem e a recuperação de materiais.

Um exemplo de cooperativa que segue esta prática é a Frisia, com mais de 1000 cooperados e produção de 360 milhões de litros de leite, 27 mil toneladas de suínos, 820 mil toneladas de grãos e 73 mil toneladas de produção florestal.

A Frisia tem demonstrado um forte investimento em sustentabilidade e foi reconhecida por seu foco na economia circular por meio de suas práticas agrícolas e de gestão de resíduos. A cooperativa implementou estratégias para integrar a agricultura à pecuária, aumentando o número de animais e utilizando critérios para garantir a sustentabilidade do sistema. Além disso, reciclou uma quantidade significativa de resíduos plásticos ao longo dos anos, demonstrando seu compromisso com a economia circular.

O cooperativismo no Paraná prova que é possível crescer com justiça e produzir com sustentabilidade. É um modelo de negócios que coloca as pessoas no centro e, por isso mesmo, ajuda a construir um mundo mais equilibrado, solidário e promissor.

Que tal conhecer as cooperativas que fazem parte da sua vida no dia a dia?

Diogo Cavazotti Aires

Diogo Cavazotti Aires

dcavazotti@gmail.com / Jornalista há mais de 20 anos, com experiência em jornal, TV, revista, internet e assessoria de imprensa. Único jornalista brasileiro a ganhar uma bolsa de investigação da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Ganhou diferentes prêmios, como o Troféu Sangue Bom do Jornalismo Paranaense (quatro vezes), o Prêmio Ocepar de Jornalismo e o Prêmio Top Inovação na categoria direitos humanos. Doutor em Educação e mestre em Direitos Humanos e Direito Internacional Humanitário.

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