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O Brasil conectado pela educação
Cortes nos investimentos da graduação pública colocam a educação a distância mais próxima do estudante brasileiro
Por Diogo Cavazotti Aires
O ano mal havia começado e Edison Luiz Mrowskovski Júnior, 16, já tinha separado o dinheiro para a inscrição do vestibular na Universidade Federal do Paraná (UFPR). O sonho é cursar Direito e os planos para 2019 já estavam traçados. “Estudar bastante e esperar 12 de agosto para efetuar a inscrição. Mas agora tudo mudou”, revela. A alteração nos planos é motivada pelas notícias sobre cortes de verba na graduação pública federal e estadual.
“Com estas mudanças, mesmo se eu passar em uma universidade gratuita não sei se terei um ensino de qualidade. Por isso decidi não mais prestar vestibular pra UFPR. Farei Enem e outras provas para alguma universidade particular, desde que tenha apoio financeiro, bolsa ou algo do tipo”. Ele revela que o ensino a distância também pode estar entre as escolhas.
Esta não é a realidade apenas de Edison. O medo de não ter a educação ideal e até mesmo ficar sem aulas tem feito com que jovens encarem a possibilidade da universidade paga. De olho neste público, as opções tendem a crescer. Nos primeiros meses de 2019 o Ministério da Educação aumentou em 70% o número de análises de pedidos de credenciamento para a abertura de novas faculdades no Brasil. Menos de 10% das solicitações foram rejeitadas.
Preço
Mas a bolsa de estudos desejada por Edison não chega a todos. Segundo dados de 2017 do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), 6,3 milhões de alunos entraram em uma graduação pública. Destes, 46,30% usaram algum tipo de bolsa, desconto ou financiamento, como Fies (Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior), Prouni (Programa Universidade para Todos) e outros. E não é de se espantar que cortes neste segmento também sejam efetuados.
Ou seja, se nada mudar, mesmo com as recentes manifestações registradas pelo país, é hora de começar a pesquisar o valor da mensalidade. E há opções para quase todos os bolsos. No curso de Pedagogia, por exemplo, o valor gasto mensalmente pode variar de R$ 150 a R$ 2500. Um dos mais procurados, Administração tem preço que varia de R$ 200 a R$ 3500, uma diferença de quase 18 vezes.
O principal motivo de variações tão grandes é a modalidade de ensino. Se em uma turma presencial é possível atingir 30, talvez 40 alunos por sala, no ensino a distância (EaD) o céu é o limite. Pode-se ter 15 em Londrina (PR), 25 em João Pessoa, 7 em Humaitá (AM), 60 em São Paulo, 100 em Vitória e por aí vai. Centenas ou milhares de alunos em uma turma, cada um na própria cidade e um mesmo professor. Parte das aulas são exibidas em polos localizados nos municípios. O restante do material pode ser acessado em qualquer computador ou celular. A estrutura é cara, mas como são diversos alunos, o preço da mensalidade cai.
Por conta disso, nos últimos anos os números da EaD cresceram rapidamente. O Inep registrou que em 2010 a quantidade de alunos nesta modalidade no Brasil era de 380 mil. Em 2017, este número atingiu 1,073 milhão, um crescimento de 180%. No mesmo período a graduação presencial cresceu 35% (por mais que ela ainda esteja na preferência popular, com 2,1 milhões de alunos em 2017).
Trufas, barco e diploma
Além de beneficiar quem busca cursos mais baratos, o ensino a distância também atinge quem não tem outra opção na região em que vive. Laisa Amanda Ambrósio e Silva, 38, é mãe de quatro filhos e mora em São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas. O polo de estudo mais próximo fica em Manaus, a 896 quilômetros. O acesso para lá é feito de duas formas: avião (R$ 1000 o trecho e duas horas de viagem) ou barco (R$ 480 e aproximadamente 24 horas de trajeto, dependendo do nível do Rio Negro. Se a maré estiver baixa, a viagem pode levar até 30 horas). E é justamente pelo rio que Laisa se desloca a cada 45 dias para assistir as aulas do curso de Ciências Contábeis a distância. Em 2015, quando iniciou os estudos, esta era a opção que tinha, já que na cidade havia polos de universidades públicas com vagas muito concorridas e com poucas opções de cursos.
O esforço de quatro anos se encerra neste segundo semestre. Laisa tem emprego mas precisou encontrar recursos extras para bancar a maratona dos estudos, que inclui gastos com viagem, alimentação, hotel e mensalidade. Só de lembrar se emociona. “Resolvi complementar a renda com a venda de trufas. Trabalhava o dia todo e de madrugada produzia os doces. Nunca vou esquecer: comecei a vender no desfile de 7 de setembro de 2015. Coloquei 200 trufas na bandeja e perguntei quais dos meus quatro filhos queriam me ajudar. Eles olharam pra baixo e pediram pra não irem pois estavam com vergonha. Ali eu pensei em desistir de tudo”, lembra. Mas, naquele momento, Laisa lembrou que estava fazendo aquilo justamente por causa dos filhos. Vendou todas as trufas.
Quatro anos depois, prestes a se formar, ela teve crescimentos na vida profissional, mas a maior mudança surgiu como pessoa. “Viajei muito, conheci pessoas nas embarcações, presenciei acidentes horríveis no rio, adquiri conhecimento e hoje sei que sou um exemplo para meus filhos e meus pais. Eles terão orgulho da única filha graduada. Todas as provas que a gente passa são pra mostrar que somos mais capazes”.
Até ganhar o canudo, Laisa ainda vai enfrentar algumas centenas de horas de barco, além de gastar dinheiro e fazer muita trufa. Aí sim terá um momento de tranquilidade. Ou talvez não. “Agora penso em fazer uma segunda faculdade de Administração”. Alguém aí ainda tem dificuldade pra estudar?
Ingressos em EaD no Brasil | 2010 | 2017 |
Norte | 32.401 | 115.952 |
Sul | 87.749 | 219.095 |
Sudeste | 139.865 | 449.313 |
Nordeste | 85.355 | 180.248 |
Centro-Oeste | 34.958 | 108.438 |
TOTAL | 380.328 | 1.073.046 |
Fonte: INEP