Exposição virtual mostra os recomeços de quem passou pelo Holocausto
Exposição virtual mostra os recomeços de quem passou pelo Holocausto

Salvatore Licco Haim despedindo-se de um amigo ao deixar a Bulgária com a família, 1948
A Segunda Guerra Mundial já estava quase no fim e vários sobreviventes dos campos de concentração passavam a ser liberados. Mas para onde? Países destruídos, economias acabadas, futuro incerto. A possibilidade era ir para outros continentes, com a chance de prosperidade e oportunidades de uma vida melhor. O Museu do Holocausto de Curitiba lançou a exposição fotográfica virtual “Livres, Mas Não Libertos”, que conta a história de personagens que fizeram estes recomeços depois da tragédia e do horror.
“De modo geral, a mostra relembra o cenário das últimas liberações dos campos de concentração nazistas, em 1945, e destaca as difíceis jornadas de recomeço vividas por quem sobreviveu. Lembramos, em 2025, os 80 anos desse período e utilizamos a riqueza do nosso acervo para personificar esse contexto que envolveu incertezas, obstáculos e esperança”, explica Carlos Reiss, coordenador-geral do Museu do Holocausto de Curitiba.
Todas as fotos utilizadas na exposição virtual fazem parte do acervo do Museu do Holocausto de Curitiba. Elas chegaram por meio de várias formas: por parte das famílias, de outros projetos e até dos próprios sobreviventes. As três fotos históricas que ilustram os módulos foram cedidas pelo Museu do Holocausto dos Estados Unidos, em Washington.
Segundo a exposição: “o pós-guerra foi também um momento de esperanças, de retomada e criação de novos vínculos, de fé nas oportunidades que se abriam. A tristeza pelas perdas com a felicidade dos novos nascimentos; a precariedade da Europa destruída com as perspectivas da vida em novos lares distantes; a solidão de um trauma impossível de compartilhar com o acolhimento em grandes redes de solidariedade. Percepções e sentimentos contrastantes que dificilmente podem ser apreendidos em grandes compêndios de sínteses históricas, mas podem ser observados em singelos objetos pessoais, um olhar em uma fotografia ou um carimbo em um documento”. E são nas histórias dos personagens da exposição que vemos um futuro e um passado fortes, mas intensos, incertos, muitos deles passados no Brasil.
A exposição tem como inspiração a obra do autor sobrevivente do Holocausto Primo Levi. “Ele se tornou a grande figura paradigmática do sobrevivente do Holocausto. Um dos maiores legados dele é ter contribuído para uma relação com o passado na forma com que Tzvetan Todorov (foi um filósofo e linguista búlgaro) definiu como ‘memória exemplar’. Falamos sobre uma narrativa do passado que considera os eventos traumáticos como uma manifestação única, mas pertencente a uma categoria mais geral, mais universal em termos de pertencimento. Isso nos permite compreender as situações novas que vivemos como sociedade e atuar com as lições que nós mesmos criamos”, completa Reiss.
O jogo de palavras do título da exposição é explicado pelo coordenador-geral do museu. “Na língua portuguesa existem diferenças substanciais entre as palavras livre e liberto. Primo Levi nos faz refletir sobre como os sobreviventes nunca se sentiram, de fato, libertos. Pelo resto da vida, carregaram traumas e amarras, de onde nunca conseguiram se soltar. Em 1945, tornaram-se livres, mas não libertos de suas experiências”.
Confira a exposição neste link: https://www.museudoholocausto.org.br/memoria/exposicoes/livres-mas-nao-libertos/