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Da bolsa amadora ao figurino das novelas nacionais

Elyane Fiuza e suas criações (crédito Mana Gollo)
Conheça a história de uma empreendedora que contribui para o empoderamento feminino no Paraná
Há 20 anos Elyane Fiuza olhou para uma calça que já não usava e pensou em fazer algo com ela. Jogar fora não era uma opção. “Gostava muito daquela calça. Analisei bem e resolvi transformá-la em uma bolsa”. Foi quando ela usou a peça que a surpresa se abriu. “Comecei a receber encomendas de amigas para transformar peças de roupa, como jaquetas e blusas, em bolsa”. Ela ainda não sabia, mas naquele momento nascia uma marca de bolsas.
Desde então os métodos foram aprimorados. Ela passou a usar couro e fazer diferentes desenhos das peças. Grandes, pequenas, com franja, a tiracolo, para usar na cintura, na mão, nas mais diversas cores e com acessórios variados. O que era para vender entre amigas passou a ser oferecido em lojas e atingir diferentes públicos. Ela trabalhava de forma informal, até que regularizou a empresa a partir de 2010 por meio do Sebrae, onde também participou de palestras e contratou consultoria financeira e marketing.

Um dia recebeu uma ligação: era uma figurinista da Rede Globo, do Rio de Janeiro. Estava convidando Elyane a desenhar e produzir as bolsas de uma personagem de uma novela. O desafio era grande: as bolsas precisavam ter o formato de comida. A personagem era a Dona Redonda do remake de Saramandaia. Dias sem dormir, trabalhando muito, pois o prazo era pequeno. Até que veio a estreia da novela. “Emocionada em ver o meu trabalho na televisão nacional”. De lá para cá foram diversas novelas em que as bolsas de Elyane apareceram, em personagens variados. “Cada vez que me pedem bolsas para alguma atriz usar é uma grande responsabilidade, pois é um acessório que complementa o figurino, e a roupa ajuda a construir um papel”.
Inovação e empoderamento feminino

Em busca de materiais inovadores para produzir novas bolsas, Elyane, que é natural de Paranavaí mas radicada em Curitiba, conheceu o couro de peixe: produzido em Pontal do Paraná. Esta novidade gerou uma coleção inteira de bolsas com a iguaria.
“Eu queria algo diferente. Quando descobri que estas peças iam empoderar mulheres de Pontal do Paraná, não tive dúvidas”. A venda dos couros contribui para o rendimento de dezenas de famílias da região. No entanto, até agora, poucos produtores descobriram a qualidade, variedade e sustentabilidade que o produto oferece.
A usabilidade do couro de peixe foi descoberta por meio de pesquisas da Universidade Estadual do Paraná – Unespar. A professora doutora em zootecnia Katia Kalco explica que a qualidade deste produto equivale ao do couro bovino. Ela conta que uma das principais dúvidas acerca do couro é a respeito de seu cheiro: após passar pelo processo no curtume ele fica inodoro.
Elyane utilizou couros de linguado e robalo para a confecção das bolsas. De acordo com Katia, o robalo tem tamanha qualidade que também pode ser usado em bancos de automóveis e na produção de móveis.
Sustentabilidade
O couro que agora é usado para fazer bolsas seria jogado fora, como descarte da sobra do peixe. O processo é simples, mas trabalhoso, todo feito por moradoras da região. Antes de iniciar o curtume em si (no Curtume Comunitário de Couros de Peixe de Pontal do Paraná), as peças são limpas manualmente para a retirada de resíduos de carne. O processo todo leva dois dias e meio, enquanto que o curtume da pele bovina pode levar até 15 dias.
“Sou uma empreendedora paranaense que produz peças exclusivas. Não faço duas bolsas iguais. Tenho um nicho de mercado muito específico. E agora com o couro de peixe, descobri uma forma de apoiar pequenas produtoras locais. Não poderia ter acontecido algo melhor”.
Elyane não vê a hora de levar as bolsas com couro de peixe para a visibilidade nacional nas novelas. “Seria um reconhecimento para estas trabalhadoras que atuam no curtume das peles. Tenho certeza que isso vai acontecer”.